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Copilotos à parte…

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Copilotos à parte…

O passado dia 24 de Março foi um dia fatídico para a aviação comercial pelas razões amplamente divulgadas. Compreensivelmente, o receio de voar, por parte daqueles que já o sentiam, aumentou. Já não bastava o risco de uma máquina voadora poder deixar de sê-lo por razões mecânicas, meteorológicas ou por simples erro humano dos pilotos. Agora, também há que considerar disfunções de caracter psicológico dos pilotos, os mesmos que até há pouco se tinham como super-homens protetores e que ali estavam para garantir a segurança de todos a bordo. É claro que aquele sinistro acidente foi causado por um copiloto e portanto os comandantes das aeronaves continuam ainda – vamos ver por quanto tempo – a salvo da desconfiança, que para já apenas afeta os do assento direito no cockpit. A solução imediatamente adotada pela generalidade das companhias aéreas foi a “regra de sempre dois tripulantes no cockpit“. Esta medida, se resolvida em muitas aeronaves de voos de longo curso, na minha opinião nada resolve relativamente aos restantes voos. É uma medida, porque a hora exige uma “medida” como tranquilizante da agitação causada. Note-se no entanto que dos mais de cem mil voos diários no globo, apenas cerca de 20% estarão já naquelas condições. Para além daquela regra, discute-se nos gabinetes da EASA e do FAA a pertinência da obrigatoriedade de quebra do sigilo médico em casos considerados como de “segurança pública”, neste caso nos ares. Talvez isso permitisse dar a conhecer às companhias de aviação potenciais situações de perturbação na saúde física e mental dos seus tripulantes, sobretudo dos impeditivos do exercício das suas funções. Também se discute o tema da porta e de como ela pode ser ou não destrancada, por dentro ou por fora do cockpit. Depois de ontem, no Air India 611 que voava de Jaipur para Deli, o copiloto se ter “passado” com o seu comandante e o ter atacado, eu penso que deveria ser discutida a dispensa de copiloto em todos os voos. De resto, todas as aeronaves comerciais já voam com 3 pilotos no cockpit, se considerarmos o automático. Brincadeira à parte, pretendo apenas dizer que, se considerarmos que diariamente viajam de avião mais de 20 milhões de passageiros, o que significa que anualmente “mais do toda a população” do globo embarca num, este continua a ser o meio de transporte de passageiros mais seguro e vantajoso a que temos acesso. Dizer também, que não se deve brincar com a formação de pilotos (e pelos vistos menos ainda com a dos copilotos…) como não se brinca com a formação de médicos ou de outros profissionais que possam ter a vida de pessoas nas “suas mãos”. A formação de pilotos sempre esteve sustentada na segurança de voo de aeronaves e passageiros. Como um seu “juramento de Hipócrates” ainda que tácito. A formação de pilotos assenta na organização, no planeamento, na monitorização, na disciplina de voo e no desenvolvimento das capacidades de liderança. A formação de pilotos não pode ser leviana nem apressada, como não acontece na Europa mas como acontece em muitos outros lugares “fastfood”. Finalmente, afirmar que quer seja um comboio, um táxi, um autocarro, um cruzeiro ou um A380, aos seus comandos encontram-se pessoas (piloto-comandante ou copiloto!). Estas são sempre imprevisíveis e potencialmente errantes. Estou sinceramente convencido que em muitos daqueles gabinetes, já se terá discutido sobre o futuro da aviação comercial, eventualmente com voos “não tripulados”. Tanta certeza, como a que tenho de, imediatamente alguém ter respondido: “esses voos não terão passageiros!”. Porque lhes faltarão os humanos protetores das eventuais falhas da máquina, acrescentaria eu. Mário Lopes VINCO – Consultoria, Gestão e Investimentos, SA

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Mário Lopes