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Incontornável

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Ontem, a circulação rodoviária em Lisboa, Porto e Faro viu-se perturbada pelo protesto dos taxistas “contra a UberE. A Uber nasceu nos EUA, mais concretamente na Califórnia, onde a regulamentação dos transportes é muito diferente e mais liberal que no Velho Continente. Teve êxito imediato, pois é mais barato, mais disponível (o número de carros e condutores é potencialmente ilimitado dentro das regras de admissão impostas pela Uber) e acessível, já que “está na ponta dos seus dedos”.

Compreendo que os transportes públicos de caracter individual, como os táxis, aleguem ver nos serviços da Uber uma concorrência desleal, por, dizem, “não se encontrarem condicionados a regulamentações legais, camarárias, fiscais e outras”; e, portanto, considerarem haver um tratamento de exceção aos veículos da Uber. Mas isto é apenas a ponta visível do iceberg.

Para além da questão de oportunidade política, ao concretizarem esta ação a escassas quatro semanas das eleições, a maioria dos argumentos usados são facciosos. Como sabemos, os táxis estão obrigados a regulação própria, é verdade, mas também estão isentos de Imposto de Matrícula, de Imposto Único de Circulação e deduzem o IVA quer da compra do veículo quer dos serviços de manutenção, combustíveis etc. – para além de poderem também deduzir todos os custos diretos com a operação no cálculo do imposto sobre rendimento a pagar em cada ano. Ao invés, cada proprietário de um veículo ao serviço da Uber, não deduz qualquer daqueles impostos ou custos, apresentando no entanto as respetivas faturas de serviço ao utilizador, o que nem sempre acontece com os táxis de forma espontânea.

Até há uns anos atrás, ao viajarmos, utilizávamos guias especializados para selecionar os hotéis onde ficar um fim-de-semana ou os restaurantes onde manjar. Foi aliás assim que os Guias Michelin ou os da Amex se tornaram referências de qualidade, adicionando valor às respetivas marcas de base. As redes sociais especializadas como a Tripadvisor ou a Zomato são atualmente consideradas como referências no aconselhamento sobre estabelecimentos, baseadas no registo das experiências dos seus utilizadores, para decisões sobre hotéis, restaurantes e até outras (Vinhos, Locais a visitar, etc).

Ora, a verdade é que nem os Guias Michelin nem os Amex desapareceram. Adaptaram o seu modelo de negócio, agora multiplataforma, mantendo-se no papel e desenvolvendo e inovando no on-line, e acabaram por sobreviver ao impacto da era digital e das redes sociais. Contudo, a base para tal, nestes casos (como será noutros), assentou na continuidade e na preservação da reconhecida qualidade dos respetivos conteúdos. Muitos são os que consultam o Amex ou o Michelin e que depois verificam no Tripadvisor as opiniões recentes de outros.

Tentar proibir ou condicionar o desenvolvimento da Uber em Portugal é o mesmo que tentar proibir a utilização da web na China. Não tem a mínima hipótese de sucesso.

Afirmam os taxistas que os pontos quentes são os aeroportos internacionais de Portugal. Ora, há muitos anos que os viajantes mais informados, por exemplo no aeroporto de Lisboa, tomam o seu táxi na praça das partidas para não serem incomodados com cenas chocantes e degradantes protagonizadas por muitos daqueles profissionais na praça das chegadas… Os taxistas terão de adaptar-se a esta nova concorrência, melhorando e inovando em muitos aspetos. A experiência de utilização dos seus serviços, por parte dos seus clientes nacionais e estrangeiros, está longe de ser boa e por isso temem. Da mesma forma que as mercearias de bairro ou gourmet estão a vencer a batalha local contra as grandes superfícies.

A grande responsabilidade cabe aos empresários das empresas de táxis, por não investirem em equipamentos, seleção e formação do seu pessoal, e adequação das plataformas tecnológicas de atendimento. Não à Uber! A esta, deveriam até agradecer por lhes oferecer a oportunidade por mais este desafio. À Uber as competentes autoridades deverão regular a operação, afinando-a, como por exemplo obrigar à subscrição de seguro de ocupantes específico, de forma a cobrir o risco de passageiros que, como sabemos, não estão cobertos pelos seguros normais de RC Auto. O tempo e o mercado farão o resto e decidirão.

Mário Lopes

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