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O nevoeiro intenso

Artigo
O nevoeiro intenso

Citando a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) sobre a condução e as condições meteorológicas adversas, esta entidade afirma que as condições meteorológicas que caracterizam o outono e o inverno são fator de risco acrescido na condução. Chuva, nevoeiro, gelo e neve alteram substancialmente as condições da circulação rodoviária, cabendo ao condutor adotar comportamentos ajustados a estas situações e adaptar a condução às várias circunstâncias com que vai sendo confrontado.

Os principais fatores que concorrem para uma maior perigosidade da condução sob condições meteorológicas adversas são: má visibilidade, perda de aderência e maior desgaste da viatura. Para atenuar estes efeitos é necessário que o condutor verifique regularmente as condições técnicas do seu veículo e que adapte a condução ao estado do piso, às condições de visibilidade, ao estado e carga do veículo, às suas próprias condições psicofisiológicas e à intensidade do tráfego.

A ANSR afirma que em situações de deficiente visibilidade os principais comportamentos que o condutor deve adotar são o aumento da distância de segurança e a diminuição da velocidade de circulação e, obviamente, a circulação com o sistema de iluminação acionado.

Na situação de nevoeiro a ANSR especifica que com estas condições atmosféricas a fadiga surge com mais facilidade devido ao esforço do condutor para tentar ver sempre mais além. Por outro lado, o nevoeiro abafa os sons, ouvindo-se mal os outros veículos, sendo por isso aconselhável fazer uso do sinal sonoro, quando necessário. Se o nevoeiro for muito espesso, o condutor tem mesmo dificuldade em orientar-se pelo que deve avançar com bastante atenção, tomando a berma direita como referência.

Mais especificamente, segundo o número 1 do artigo 18.º do Código da Estrada (distância entre veículos), o condutor de um veículo em marcha deve manter entre o seu veículo e o que o precede a distância suficiente para evitar acidentes em caso de súbita paragem ou diminuição de velocidade deste. Por outro lado, segundo o artigo 19.º do CE (visibilidade reduzida ou insuficiente), considera-se que a visibilidade é reduzida ou insuficiente sempre que o condutor não possa avistar a faixa de rodagem em toda a sua largura numa extensão de, pelo menos, cinquenta metros.

Vamos a um exemplo: dois veículos a circular em autoestrada em situação de nevoeiro intenso. O condutor do veículo A circula a velocidade reduzida pois “não vê nada” à sua frente, imaginemos que circula a 70 km/h. Já o condutor do veículo B, que segue o veículo A, impõe a velocidade de 130 km/h ao seu veículo, dado que tem “olhos de lince”.

Consideremos que por algum motivo, o condutor do veículo A trava a fundo, imobilizando o veículo. Será que o condutor do veículo B consegue evitar a colisão (não considerando manobras de direção)?

Um veículo que circule a uma velocidade de 130 Km/h necessita de aproximadamente 83,1 metros para se imobilizar, já em fase de travagem, ou seja, após a reação, ou seja no instante que o veículo se encontra com o sistema de travagem acionado, considerando o coeficiente de atrito de 0,8 e a Eq. (1):

d_travagem= v^2/2µg

em que  d_travagem é a distância de paragem do veículo em travagem total,  é a velocidade do veículo (em m/s) é o coeficiente de atrito e  a constante gravítica (9,81 m/s2).

Considerando um segundo como tempo de reação do condutor do veículo B, ou seja, o tempo que leva a se aperceber da travagem do veículo A, o veículo B percorreria 36,1 metros antes de iniciar a desaceleração (travagem). A atuação do sistema de travagem dura geralmente 0.2 segundos, o que neste caso corresponderia a cerca de mais 6,7 metros.

Adicionando a distância percorrida durante a reação, atuação do sistema e a distância necessária para imobilizar o veículo (em travagem), o condutor do veículo necessitaria de 125,8 metros para imobilizar completamente o veículo B. Esta seria a distância mínima a que o condutor do veículo B deveria circular do veículo precedente, caso este se encontrasse repentinamente parado na faixa de rodagem e ainda assim o condutor do veículo B conseguisse evitar a colisão.

Contudo, o veículo A, circulando à velocidade de 70 km/h, necessitaria de 24,1 metros para se imobilizar (conforme a Eq. (1)), se alguma circunstância assim o impusesse. Assim determina-se que a distância mínima a que o BMW deveria circular para que não colidisse com o Peugeot seria de 101,7 metros (125,8– 24,1 metros), para as condições consideradas.

Na figura abaixo ilustram-se as distâncias de imobilização (esta ilustração não se encontra elaborada segundo uma escala de conversão das dimensões reais) de ambos os veículos e a distância mínima a que o veículo B deveria circular do veículo A.

Considerando uma visibilidade de 50 metros (valor máximo para ser considerado visibilidade reduzida), a velocidade máxima a que o veículo B poderia circular, para evitar a colisão com o veículo precedente seria de 95 km/h.

Concluindo, em situação de nevoeiro intenso e, portanto, em situação de visibilidade reduzida, é muito importante reduzir as velocidades de circulação para se conseguir evitar o acidente. Cinquenta metros é uma distância muito curta para percecionar o perigo e reagir.

Ricardo Portal
icollision – Investigador de Sinistros

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