Nissan Note 1.2G DIG-S Tekna Premium

Desde que se juntou à Renault, a Nissan percebeu que, na Europa, a melhor forma que teria para combater a concorrência seria ocupar o espaço livre entre segmentos, ou oferecer propostas diferentes. Começou com o Qashqai, continuou com o Juke, depois o Micra. O novo Note segue esta tendência, ao mudar um pouco de filosofia. A anterior geração partia da plataforma do Renault Clio e era um pequeno monovolume, concorrente de modelos como o Modus. Agora, apesar de continuar a parecer-se com um pequeno monovolume, posiciona-se entre estes e os utilitários. Para isso recorre à plataforma do Micra, que é, no fundo, um utilitário low-cost, que também concorre no meio dos citadinos.

O aspecto de pequeno monovolume dá ao Note um ar muito peculiar, a fazer lembrar os “K-car” japoneses, até porque as linhas são nitidamente inspiradas na zona mais oriental do Globo. Isto é ainda mais evidente graças aos apêndices aerodinâmicos montados na unidade ensaiada, que são parte integrante do pacote Dynamic. Um pequeno monovolume com saias laterais, aileron e spoiler é algo muito japonês. A verdade é que o formato da carroçaria do Note traz inúmeras vantagens em termos práticos. A tampa da bagageira, colocada na vertical, garante um excelente acesso à mesma, que ainda beneficia de uma capacidade variável entre os 325 litros e os 411 litros, graças ao banco traseiro com regulação longitudinal ao longo de 160 mm, e uma prateleira, que pode ser colocada em dois níveis. A regulação do banco traseiro não só permite oferecer uma bagageira com uma capacidade ímpar no segmento, como disponibiliza imenso espaço para as pernas dos ocupantes do banco traseiro, que ainda beneficiam de um apoio de braços com porta-copos e de um excelente acesso, graças aos 90 graus de ângulo de abertura das portas. Esta característica é particularmente útil na colocação de cadeiras de bebé, por exemplo.

Os 90º de ângulo de abertura das portas traseiras garantem um excelente acesso ao habitáculo, principalmente quando o objectivo é colocar uma cadeira infantil

À frente, o espaço é também ele bastante generoso, sendo que a posição de condução é confortável, mas não perfeita, já que falta a regulação em profundidade para a coluna de direcção. A visibilidade é boa para todos os ângulos, mas a ergonomia tem aquelas características tão negativamente japonesas, como a colocação do botão que controla o computador de bordo, ou os comandos da climatização montados num plano demasiado baixo. Ainda assim, não há dúvidas que o Note marca pontos no capítulo familiar, destacando-se facilmente face à concorrência.

A juntar a isto, a Nissan oferece uma lista de equipamento de série muito recheada neste nível Tekna Premium Pack Dynamic, que inclui o aviso de ângulo morto, o Aviso de Mudança de Faixa, a Detecção de Objecto em Movimento e o Monitor de Visualização da Área Circundante, todos parte integrante daquilo a que a Nissan chama “escudo de protecção”. Estes sistemas não são novidade, mas é de realçar a sua presença num automóvel do segmento B. Mas a lista de equipamento de série não se fica por aqui e ainda inclui elementos como o sistema de navegação, o bluetooth, a camara de marcha-atrás com visão 360º, o cruise-control, o ar condicionado automático e os sensores de luz e de chuva, entre outros.

No fundo, o Note consegue marcar bastantes pontos face à concorrência nos capítulos espaço, versatilidade e equipamento, mas um automóvel não pode ser avaliado apenas por esses pontos. Basta estarmos algum tempo dentro do habitáculo para percebermos que a qualidade dos materiais ainda tem muito que evoluir para estar ao nível de alguma da concorrência europeia, já que apenas oferece materiais duros, com um aspecto pouco refinado e nem mesmo a montagem está isenta de críticas, pois os ruídos parasitas já se faziam sentir na unidade ensaiada.

Muito espaçoso e versátil, o habitáculo do Note peca pela ausência de materiais agradáveis ao toque e por alguns pormenores de ergonomia.

Refinamento não é, aliás, algo que seja natural para o Note, pois a falta do mesmo também se faz sentir no pisar, que transmite algumas vibrações para o habitáculo. Curiosamente, o comportamento até é bastante divertido e ágil, mas preferíamos perder diversão e ganhar conforto, até pelos características do Note. Não faz sentido oferecer espaço e versatilidade, para depois manchar com um conforto perfectível. Mesmo a insonorização não é brilhante, algo ainda mais notório pela arquitectura de três cilindros do motor 1.2 de ciclo Miller, principalmente quando sujeito a maiores cargas de acelerador, algo que nem mesmo as longas relações de caixa conseguem escamotear. Mas tudo isto acaba por ficar esquecido pela forma suave e disponível como o motor 1.2 DIG-S entrega a potência, fruto da presença do compressor volumétrico. Não é um automóvel rápido, mas consegue ser suficientemente despachado por entre o trânsito citadino.

Em auto-estrada surgem as maiores limitações, muito por culpa das relações de caixa demasiado longas, que, por outro lado, resultam muito bem na obtenção de excelentes valores de consumo. Conseguir 5,0 l/100 km a 120 km/h, ou 3,6 l/100 km a 90 km/h, é algo notável para um automóvel a gasolina com estas características. Igualmente relevante é o valor obtido em cidade, muito graças ao bom sistema stop/start, sempre rápido e suave no funcionamento. No entanto, fica a nota de que estes resultados são conseguidos com recurso ao botão Eco, que reduz, de forma substancial, a performance do motor, o que prejudica imenso a qualidade de condução. Obriga a recorrer muito à caixa de velocidades, que, ainda por cima, tem um manuseamento pouco preciso. A não ser em situações muito pontuais, a utilização da função eco faz muito pouco sentido.

A função ECO tem um papel importante na obtenção dos excelentes valores de consumo, mas prejudica a qualidade de condução.

Neste momento, e sem prazo para terminar, a Nissan tem em vigor uma campanha em que o comprador fica com a versão superior sempre ao preço da inferior. Neste caso, paga a versão Tekna Sport, mas tem a Tekna Premium, o que representa um desconto de 1400 euros. Se tiver retoma, recebe mais 1750 euros de desconto. Quero isto dizer que um Note igual ao que pode ver nas fotografias custa 20 390 euros. Apesar da lista de equipamento infindável, é um preço algo elevado, acima dos seus concorrentes directos, ainda para mais sendo um modelo sem grande tradição no mercado português.