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Arno XI: um cavallino rampante na água

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Arno XI: um cavallino rampante na água

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Entre 1952 e 1953, Achille Castoldi, um visionário aventureiro que desde sempre esteve ligado à competição e aos motores, juntamente com Alberto Ascari e Luigi Villoresi, convenceram Enzo Ferrari a “emprestar-lhes” o seu conhecimento e experiencia técnica para desenvolverem uma embarcação que pudesse competir contra a família Guidotti e o seus Maserati-powered boats.

O resultado foi a criação de um barco que viria a tornar-se um ícone. Um fenomenal motor náutico da Ferrari com mais de 600 cv, o Ferrari 375 twin-supercharged G.P. 52/1.

No dia 15 de Outubro de 1953 no Lagoa Iseo, o mesmo onde desde sempre a Riva tem os seus estaleiros e quartel-general, o Arno XI estabeleceu o seu primeiro record de velocidade. Uns impressionantes 241,708 km/h, velocidade que nunca antes as lanchas da sua classe tinham ultrapassado.

No seguimento desse feito, o Arno XI foi vendido ao Eng. Nando dell’Orto que continuou a competir com ele durante mais de uma dezena de anos.

Arno XI

Entre os anos 40 e 50 do século passado a febre dos records toumou conta das mentes de muito aventureiros, como Achille Castoldi e Nando del’Orto. Este Ferrari aquático rapidamente se tornou numa lenda sobre a água e uma lancha de referência no imaginário de todos quanto queriam atingir a imortalidade através da velocidade.

As suas linhas afiladas e a sua característica proa em “bico de pato”, juntamente com a sua extraordinária potência (estamos a falar de 1953), transformaram o Arno XI num objeto de desejo e numa importante peça na história da Ferrari.

Esta lancha era à época uma imagem de ficção científica. A combinação equilibrada de laminados de madeira finamente envernizados, com a fuselagem em metal lacada de vermelho sangue e as linhas de nave espacial dos filmes de Dick Tracy, fizeram deste barco um objecto de culto. Mas tinha ainda a “cereja no topo do bolo”: nos flancos, o escudo do conde Francesco Baracca com o Cavallino Rampante e símbolo da Ferrari.

Desde o dia em que tocou a água o Arno XI ganhou a fama e o proveito de recordista de velocidade na água, ajudando a marca de Enzo a ganhar ainda mais força e reconhecimento internacional.

Arno XI b

Já em 1940 Achille Castoldi tinha iniciado a conquista de uma série de recordes de velocidade, tendo conseguido atingir a marca dos 130,52 km/h na classe de 400 kg. Este recorde foi conseguido com a primeira versão do Arno, nessa altura equipado com um motor Alfa Romeo type 158.

Com o abandono da marca de Arese da Fórmula 1 por dificuldades financeiras, Achille Castoldi, que durante vários anos se tinha valido de motorizações Alfa Romeo e Maserati para as suas lanchas, volta-se no início da década de 1950 para a Scuderia Ferrari.

O objetivo de Castoldi era claro: queria um barco mais pesado e mais rápido para quebrar mais recordes. Com o apoio de Enzo consegue que este lhe forneça um motor de F1 que tinha sido desenvolvido por Aurelio Lampredi para o Ferrari 375 F1, o mesmo modelo que ofereceu à Escuderia a sua primeira vitória na F1, no circuito de Silverstone, com José Froilán González ao volante.

Este motor, um V12 com 4500 cc, foi rebatizado G.P. 52/1 “Nautico” e equipado para o efeito com dois compressores e quatro carburadores duplos Weber. Assim conseguia o máximo proveito do novo sistema de alimentação, o metanol, que substituía neste caso a gasolina. Este sistema conseguia uma potência máxima de 502 cv/6000 rpm.

Arno XI c

Na altura, em quase todos os lagos alpinos do norte da Itália vivia-se uma febre de velocidade sobre a água, com pilotos italianos, alemães, ingleses e franceses a tentarem sucessivamente alcançar a imortalidade. Em vez disso, alguns deles a única coisa que conseguiram foi chegar à mortalidade de forma mais rápida…

Para este projeto do Arno XI foi convidado o famoso designer Cantieri Timossi, que trabalhava sobretudo em projetos no Lago Como. Timossi foi o responsável por desenhar as linhas desta nova embarcação que pertencia à classe dos 800 kg. A base foi uma estrutura muitíssimo resistente, coberta por um laminado de madeira compensada e folheado de Mogno. Para a sobre estrutura e cockpit foi moldada uma carenagem em alumínio. Também em alumínio foram construídos o estabilizador traseiro e o capot do motor.

 A 15 de Outubro de 1953 Castoldi estabeleceu o recorde de velocidade ao leme do Arno XI, registando 241,708 km/h no Lago Iseo. Ainda nesse dia, Castoldi quebrou o recorde nas “24 milhas náuticas”, com uma velocidade média de 164,37 km/h. De acordo com a Federação Italiana de Barcos a motor esta marca nunca mais foi batida.

Arno XI d

O Arno XI, depois de vendido a Nando dell’Orto, continuou a conquistar o sucesso e a ganhar inúmeras provas de motonáutica durante mais uma década.

Finalmente, em 1993 o Arno XI foi completamente restaurado, sendo hoje uma das mais importantes peças da história da Ferrari.

Em 2012 voltou a bater um recorde, mas desta vez sem colocar os motores a trabalhar. O Arno XI foi vendido em leilão, e ainda que não se saiba ao certo o valor pelo que foi arrematado, sabe-se que ultrapassou os 1,5 milhões de euros, o que faz dele o detentor do recorde de barco da sua classe mais caro do mundo.

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Sobre o autor
Vasco Macide