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Crossovers, SUV e outras coisas de quatro rodas

Artigo
Crossovers, SUV e outras coisas de quatro rodas

É incontornável que os SUV (ou a sua mais recente iteração, os crossover, mini, midi ou maxi) estão na moda. Os últimos anos têm sido pródigos em modelos em todos os segmentos, e são muito poucos os fabricantes que não contam na sua gama com pelo menos uma destas criaturas (até a Jaguar já tem um…).

E se quando surgiram os SUV começaram por estar muito mais próximos de um veículo todo o terreno (altura ao solo, transmissão integral, chassi independente da carroçaria), hoje em dia os crossover partilham a plataforma com os seus primos tradicionais, ao que se adicionam umas rodas maiores, uma estética diferente e, eventualmente, uma transmissão integral.

É para mim bastante claro que a popularidade destes veículos está essencialmente associada a questões de “moda”, apelo estético ou percepção de um veículo mais polivalente. É importante, no entanto, perceber o que se está a sacrificar para este fim. De um ponto de vista prático, como se compara um crossover com um automóvel normal? Vamos ver um ponto de cada vez:

  • Espaço

Ao contrário de um MPV (nome “moderno” para monovolume), o aumento de altura num crossover não se traduz num aumento do espaço interior, nem para passageiros nem para bagagem, pois o piso do veículo sobe na mesma medida para garantir a mais elevada altura ao solo. Embora as formas exteriores mais generosas sugiram o contrário, não há em geral aumento líquido do espaço útil.

  • Conforto

Dois pontos aqui: sendo um veículo mais alto, inevitavelmente vamos subir o centro de gravidade, o que obriga a que, de modo a manter um comportamento dinâmico aceitável, seja necessário optar por suspensões mais rijas; por outro lado para que um crossover tenha um mínimo de capacidade de circulação fora de estrada, há um limite para a rigidez da suspensão, que não é ajudada pelo uso de pneus de baixo perfil… O resultado é um compromisso entre conforto e comportamento dinâmico que inevitavelmente terá resultados inferiores ao de um veículo convencional no local onde vai ser usado a maior parte do tempo (para não dizer a totalidade): a estrada de alcatrão.

  • Consumo e emissões

Embora os crossover partilhem as mesmas motorizações dos veículos tradicionais, há três aspectos que vão condicionar o consumo: o maior peso, a pior aerodinâmica e, frequentemente, o uso de sistemas de transmissão integral. Temos assim que os consumos, quando comparados com veículos convencionais equivalentes, vão ser sempre piores. E mais consumos resultam em superiores emissões de CO2. Já em relação aos outros poluentes, esses seguem as mesmas normas e não haverá diferenças significativas.

  • Preço

Este é um aspecto que, em particular num mercado como o português, tende a ser dominante. E o que se verifica é que, para dimensões interiores, equipamento e motorizações comparáveis, os crossover são sempre mais caros. Ao que se juntam outros custos mais escondidos, como sejam os consumos mais elevados ou o preço dos generosos pneus que os equipam…

No final de tudo, o consumidor é rei e senhor, e, na hora de tomar a decisão, a componente emocional não é de todo (nem pode ser) desprezável. O que é importante é perceber o que se está a significar quando se compra o carro da moda.

Gonçalo Gonçalves
Professor no Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa

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