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O desporto motorizado de quatro rodas em Angola após a independência

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O desporto motorizado de quatro rodas em Angola após a independência

Depois dos anos todos de guerra, tal como praticamente tudo em Angola, o desporto motorizado também ia sendo destruído. Graças a meia dúzia de “carolas”, como Moura Fernandes, Pedro Cristina, Lili Guedes, Luís Maluco, Luís Gonçalves, entre outros, isso não aconteceu. A Velocidade manteve-se viva, principalmente em Luanda, Benguela e Lubango (a única província que ainda mantém um kartódromo em funcionamento). Nos anos de 1990 chegaram a existir provas com apenas 3 carros em pista no Autódromo de Luanda, mas esses “carolas” não desistiram.

O grande “boom” deu-se no início do século XXI, e então começaram a entrar vários carros e atingiu-se o que hoje temos, onde inclusive teve de se separar as viaturas Turismos dos TGS (Turismos e Grand Sports).

Nos Turismos vemos hoje carros como os Honda Civic Type R, Renault Clio e Mégane, Peugeot 206, Hyundai Accent e i20, entre outros, enquanto nos TGS temos os Porsche, os Norman, os Radicais e os BMW, entre outros. A divisão é simples: até 2000 cc, sem tracção às quatro rodas e a gasolina, entram na Classe de Turismos, que de igual modo está divida em duas – até 1600 cc e mais de 1.600cc. Tudo o resto entra para a Classe TGS.

Angola deve ser dos poucos países do mundo onde vemos um Radical S8 a correr contra um Hyundai i20, isso apenas em algumas corridas, como a mítica prova dos 200 Km do Lubango.

Existem neste momento provas no Autódromo de Luanda (que de autódromo apenas tem o nome, pois está completamente destruído, onde muitas vezes tem de se passar uma semana a tentar limpar a pista, por causa das chuvas, o que nem sempre se consegue) e os Circuitos Citadinos do Lubango, Sumbe, Benguela, Huambo e Namibe, perfazendo geralmente 7 a 8 provas a totalidade do Campeonato Nacional… Sim, eu disse “geralmente”, isto porque apenas no ano passado foi eleita, ao fim de muitos anos, a FADM (Federação Angolana dos Desportos Motorizados) e, apesar dos esforços que têm vindo a desenvolver, por vezes existem provas que à ultima da hora são canceladas.

Por outro lado temos o CARR (Campeonato Angolano de Rally Raid), organizado pelo Pedro Cristina, debaixo da Tutela da FADM, que deu um salto brutal no último ano. O conceito do CARR é uma mistura do rally puro com o rally TT, isto é, estamos a falar de PECs de um modo geral pequenas (geralmente com 18 a 20 km) que podem ser reconhecidas, mas onde participam motos, moto4, UTVs e jipes/pick-ups, divididos em quatro classes.

No ano passado, os rallies ganharam uma vida enorme, e na classe dos UTV chegaram a participar cerca de 25 carros, na sua maioria os Polaris RZR 800 e 900, tendo, como é óbvio, a representante da marca tido muita influência ao lançar o Polaris CUP by Trevotech. Este Campeonato conta neste momento com oito provas, sendo elas em Luanda, Sumbe, Porto Amboim, Namibe, Kilengues, Huambo, Lobito e Longa, esta última em circuito fechado com 9 km de perímetro.

Como é óbvio, no início, os pilotos da velocidade eram os que participavam nas provas de rally, como é exemplo Luís Gonçalves, que alterava o seu Renault Clio, com especificações para velocidade para rally, e lá ia ele. Hoje em dia isso já não acontece e temos um número de pilotos novos e outros da “velha guarda”, como o Jorge Portugal, que ao fim de mais de uma década resolveu voltar, ou o caso do Maló Almeida, que deixou a Velocidade para se dedicar em exclusivo aos rallies.

Outra das grandes vantagens que os rallies têm é que, como sabem, em Angola terra é o que não nos falta, e arranjar uma picada onde se possa fazer uma prova é mais fácil do que arranjar um circuito alcatroado.

Resumindo, a competição automóvel em Angola está numa fase crescente, mas ainda tem muitos problemas e ainda falta muita coisa, nomeadamente o reconhecimento por parte das Instituições Estatais para que possa desenvolver-se como tem capacidade para isso – quando temos a empresa petrolífera nacional, Sonangol, a patrocinar provas como o Africa Race ou o Campeonato de Velocidade de Clubes, mas não aposta nos pilotos nacionais, como o Rómulo Branco, que no ano passado foi quase Campeão Mundial de TT, algo não está bem.

José Carlos Madaleno
CEO da Transmad

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