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Percepções erradas

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Percepções erradas

No último ano, 55% das pessoas que, em Portugal, morreram em acidentes de viação, foram vítimas de acidentes verificados dentro das localidades. Esta é uma situação que decorre de diversos factores, sendo o mais determinante a velocidade aí praticada, como se confirmou na observação das velocidades praticadas nos diversos tipos de estrada, em Portugal.

Na verdade, quer no atravessamento de localidades por estradas nacionais, como na circulação nos arruamentos dentro das localidades, se verifica a prática continuada de velocidades não compatíveis com a segurança dos diversos tipos de utentes que lá circulam, constatando-se que, em média os excessos são em maior número e mais graves do que os praticados fora das localidades (consultar os dados em www.observatorio.prp.pt)

Em paralelo, verifica-se que a percepção da velocidade praticada nos diversos tipos de estrada pelos condutores não corresponde à realidade, pois estes consideram que se cometem mais excessos nas autoestradas, seguidas das estradas principais fora das localidades, sendo no interior das localidades que consideram que se cometem menos excessos.

No mesmo site, podem consultor essas opiniões, mas não quero deixar de sublinhar as opiniões expressas sobre “circular 20 km/h acima de velocidade permitida em zonas residenciais”, e comparar as opiniões expressas peloas condutores portugueses com os de outros 19 países europeus a quem foi aplicado o mesmo questionário:

  1. “Concorda que conduzir 20 km/h acima do limite de velocida dentro de localidades, aumenta o risco de acidente?” – Portugal foi o 2º país com menos concordância, a seguir à Sérvia, e empatado com a Áustria e a Bélgica
  2. “Concorda que se conduzir 20 km/h acima do limite de velocidade dentro de localidades vai ser fiscalizado e autuado?” – Portugal foi igualmente o 2º país com menor concordância, a seguir a Itália.
  3. “A maioria dos seus amigos conduz 20 km/h acima do limite de velocidade dentro de localidades?” – Portugal foi o país com maior concordância de todos, com 69% de respostas positivas, contra uma média de 38% nos 20 países consultados, tendo a Polónia sido o país copm o 2º nível de mais respostas positivas (65%).
  4. “No próximo mês prevê conduzir 20 km/h acima do limite de velocidade permitido dentro de localidades?” – Portugal foi o 3º país com maior número de respostas positivas (após Chipre e Sérvia), mas apenas 8% afirmou que sim. Ou seja, ows condutores portugueses acham que os seus amigos excedem os liimites (69% das opiniões), mas não eles próprios (só 8% afirma que sim!).

Entre outros, estes dados confirmam em absoluto que este é um dos problemas que de forma mais claramente determina a morte de centenas de pessoas anualmente em Portugal. É um problema que tem de ser enfrentado de forma muito clara e determinada através de políticas transversais de gestão das velocidades praticadas, a começar pela formação dos condutores, explicando-lhes a relação da velocidade praticada com as distâncias de travagem e de paragem, a influência da atenção e da concentração nos tempos e distâncias de reacção (e a influência da fadiga, do álcool, do telemóvel,…), no que a distância de visibilidade deve condicionar a velocidade que se pratica, na influência do piso molhado na redução do coeficiente de atrito e consequentemente no aumento da distância de travagem.

Enquanto todos estes conceitos não forem obrigatoriamente ensinados e avaliados na formação dos cidadãos condutores, e em seu lugar sejam apenas debitados os limites autorizados, muitas vezes percepcionados como sem sentido, não vamos conseguir que as decisões de quem conduz venham a ser as mais adequadas a cada situação de trânsito com que somos confrontados no dia a dia.

José Miguel Trigoso
Presidente do Conselho de Direcção da PRP

 

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