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A via tolerante

Artigo
A via tolerante

No artigo anterior, com recurso a alguma ficção, trouxemos a ideia de veículos dotados de sistemas inteligentes que, em termos simples, fariam uma leitura das condições da via, da sinalização, da presença de obstáculos e, após processada a informação, ajudariam o condutor a errar menos.

Como o sistema rodoviário é composto pelo Homem (condutor, peão), pelo Veículo e pela Via, trazemos desta vez algumas noções que dão corpo ao conceito de via tolerante que, em síntese, se traduz na Via auto explicativa e que interage com os condutores dando-lhes informações sobre deficiências de condução e infrações cometidas para que produza o desejável efeito de redução do erro.

Existe um mecanismo mecânico, que todos nós já conhecemos, com certeza, que são aqueles “ressaltos” existentes nas linhas guia laterais das auto estradas, que dividem a berma da faixa de rodagem e, quando “pisamos” essa linha rapidamente sabemos que estamos a sair da faixa de rodagem por via de um estranho ruído que atua como alerta.

Este é um simples exemplo, porém existem outros sistemas que mostram ao condutor a forma como conduz, veja-se, a título de exemplo, aqueles painéis que detetam a velocidade e individualizam o resultado.

Em breve existirão sensores que mostram o excesso de peso, ou mesmo que se circula sem o cinto de segurança colocado, ou que se circula a uma distância insuficiente do veículo da frente. Toda esta informação será fornecida ao condutor para que tome a decisão mais adequada e que leva, consequentemente a mais segurança rodoviária.

Por outro lado, quando as entidades que por dever devem proceder à análise da sinistralidade concluem por incorrecção da via, de imediato deve ser realizado o estudo e apresentada a melhor proposta para corrigir determinado ponto da via para que não seja, a própria via, a potenciadora de acidentes. Recorde-se, por exemplo, o caso da Marginal, considerada durante anos como a estrada da morte, que viu inverterem-se os resultados e o número de sinistros com a simples aplicação do separador central, ou o caso da “reta do infantado”, no cruzamento entre a EN 119 e a EN10, um local que tantas vítimas causou até 2002, que viu reduzir drasticamente as cifras trágicas dos acidentes com a construção de uma rotunda.

Ou seja, por vezes, com recurso a pouco investimento e sem grandes obras, conseguem-se resultados fantásticos e, sobretudo, salvam-se vidas.

Também agora, com o advento dos novos direitos e deveres atribuídos aos condutores de velocípedes, se começa a perceber o quão importante é, desde já, uma ação por parte das autarquias e municípios para que contemplem, nos respetivos Planos Municipais de Segurança Rodoviária, o desenho de infraestruturas em que haja diferenciação física de vias para os diferentes tipos de veículos/utentes: veículos a motor, velocípedes e peões.

Gabriel Mendes
Coronel da GNR

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