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Motos de seis cilindros

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Motos de seis cilindros

No princípio, as motos para o comum mortal tinham um cilindro, se tivessem 2 cilindros (paralelos – motos inglesas; opostos Boxer – BMW; ou em V – “Made in USA”) já eram máquinas de outro mundo e, francamente, mais que suficiente. Ali no meio apareceu a Henderson com um motor de 4 cilindros em linha que estava bem à frente do seu tempo e, como tal, teve vida curta. Isto para dizer o quê? Que os motores de quatro cilindros em linha, tão populares nos dias de hoje, só pegaram a sério com a introdução da Honda CB750, em 1969 e de todas as outras japonesas que se seguiram.

Num artigo anterior tive oportunidade de abordar um tema que me interessa particularmente dentro do mundo das duas rodas, o das motos sobrealimentadas. Desta vez vou falar de mais uma fascinante subfamília de motociclos que muitos provavelmente não conhecem: motos equipadas com motores de seis cilindros. E se o grande total de motos sobrealimentadas de produção se reduziu a quatro modelos, um de cada um dos fabricantes japoneses, nas motos de seis cilindros ficamo-nos por 3: a Beneli Sei, a Honda CBX e a Kawasaki KZ 1300. A arquitectura do motor é comum a todas, seis cilindros em linha montado transversalmente – vamos ver com mais detalhe, e por ordem crescente de cilindrada (e potência).

A Beneli Sei  foi a primeira moto de seis cilindros de produção. Introduzida inicialmente em 1973 com 750 cc (76 cv), em 1979 cresceu para 900 cc (80 cv). Durante um breve período esta moto colocou a Benelli à frente das japonesas. Não era particularmente conhecida pela fiabilidade.

Pelo contrário, com seis cilindros e a qualidade Honda, 1000 cc e 105 cv de potência, em 1978, nada se aproximava da Honda CBX – só que a “básica” CB900 vendeu muito mais, o que levou à sua descontinuação em 1982. Em boa verdade, nenhuma destas motos tinha vantagens significativas sobre as versões de quatro cilindros que dominavam o mercado, o que terá sido a principal razão que levou à sua extinção.

A Kawasaki KZ 1300 foi a última a surgir no mercado, em 1979. Além dos 1300 cc de capacidade, contava com refrigeração líquida, 120 cv de potência… e mais de 300 kg de peso! Consta que terá sido esta moto a levar à introdução do limite de 100 cv para as motos vendidas em França. Deixou de ser produzida em 1989, mas as que sobrevivem (e são muitas, já que era “à prova de bala”) continuam a fazer a alegria dos apreciadores. Se não pela estética discutível, pelo menos pelo fantástico som do seis cilindros em linha característica, aliás, comum a todas elas – ouça-se a fantástica KZ 1300 neste vídeo filmado em Spa: https://youtu.be/wjk4S5tpVi0).

Uma nota final pessoal: em comparação com as motas anteriores aos anos de 1980, as actuais são, e como dizer isto sem ofender ninguém?…, aborrecidas. Mas que disparate! Hoje é possível comprar motos para utilização em estrada com mais de 200 cv e que passam os 300 km/h, motos todo o terreno (ou de aventura, ou lá como lhe chamam) com mais de 120 cv, que envergonhariam uma desportiva dos anos de 1980 (ou 1990), scooters de 125 cc que nunca precisam de abastecer de tão pouco gastarem! OK, existe isso tudo: mas  continuo a achar que, por comparação com os modelos mais antigos, são aborrecidas. Mas é só uma opinião (que também se aplica aos automóveis).

Gonçalo Gonçalves
Coordenador do laboratório de veículos e propulsão do DEM-IST

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