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Quantas polegadas são suficientes?

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Quantas polegadas são suficientes?

Quando um determinado veículo é desenhado, a dimensão mínima das jantes é determinada pelo espaço necessário para dentro dela caber o disco de travão mais a pinça que o construtor considera adequados para esse veículo. Num veículo de elevadas prestações, em que discos de travão de grandes dimensões são necessários para dissipar as enormes quantidades de energia que resultam de múltiplas travagens a alta velocidade, discos de travão com diâmetros na ordem dos 40o mm são comuns. Um exemplo extremo serão os discos de carbono que equipam os modelos “desportivos” (chamar a um carro de duas toneladas e meia desportivo é esticar um pouco o conceito) da Bentley, com um diâmetro de 420 mm.

Discos de 420 mm e jantes de 20 polegadas (50 mm), para um diâmetro total da roda de 700 mm, num Bentley Continental GT

Discos de 420 mm e jantes de 20 polegadas (50 mm), para um diâmetro total da roda de 700 mm, num Bentley Continental GT

Nos automóveis mais “normais” as dimensões dos discos de travão são mais comedidas, sendo que o resultado final é que a jante mais pequena disponível usualmente anda pelas 15 polegadas. No entanto um dos opcionais mais frequentemente escolhido pelos compradores são jantes de maiores dimensões, geralmente com o argumento que são mais bonitas ou permitem um melhor comportamento dinâmico. Mas se a primeira afirmação depende do gosto de cada um, já a segunda poderá não ser bem assim…

Um elemento que temos de ter a noção é que num veículo, embora possa ter várias jantes diferentes homologadas, o diâmetro exterior da roda tem forçosamente de ser o mesmo, por duas razões: a roda tem de caber de caber na cava da roda e o velocímetro está calibrado para um determinado diâmetro da roda que portanto não pode ser alterado.

A consequência disso é que à medida que aumento o diâmetro da jante é necessário reduzir a altura da parede lateral do pneu. Por comparação com um pneu mais alto, um pneu com um perfil mais baixo tem maior rigidez, não deformando tanto nas curvas e dando assim uma sensação de comportamento mais preciso. As contrapartidas no entanto são várias:

  • Ao ter menos altura de borracha, um pneu de baixo perfil torna-se mais desconfortável quando circulamos em piso irregular, do qual o exemplo extremo é o empedrado tão comum em Portugal.
  • A menor quantidade de borracha oferece menos protecção à jante quando passamos em buracos (ou crateras, dependendo da estrada) ou subimos passeios, o que associado ao custo mais elevado das jantes maiores poderá ter implicações na carteira.
  • E por falar em carteira, os pneus de baixo perfil são mais caros que os de perfil mais alto, algo que só nos lembramos no momento de trocar pneus.
  • Os pneus de baixo perfil estão também quase sempre associados a maiores larguras do piso, o que tem consequências negativas quando circulamos em piso molhado com maior risco de aquaplanning

Será que o suposto aumento das qualidades dinâmicas compensa? Um trabalho feito pela revista Car and Driver, onde são comparadas as prestações do mesmo automóvel com diferentes jantes é esclarecedor. Quando equipado com jantes maiores os acelerações pioram e os consumos e ruído aumentam, a distância de travagem (a seco) e o limite de aceleração lateral melhoram ligeiramente.

Em conclusão, será que vale a pena? Cada um saberá aquilo a que dá mais valor, mas na minha opinião a estética neste particular aspecto está sobrevalorizada…

Gonçalo Gonçalves
Coordenador do laboratório de veículos e propulsão do DEM-IST

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