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Raidillon: a marca de Spa-Francorchamps

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Raidillon: a marca de Spa-Francorchamps

A engenharia mecânica permite facilmente estabelecer uma ponte entre o desporto automóvel e a relojoaria tradicional, com muitas escuderias a associarem-se a manufacturas para o estabelecimento de parcerias. O caso da Raidillon é diferente: nasceu do imaginário de Spa-Francorchamps e foi baptizada com o nome da mais famosa curva do lendário circuito das Ardenas; face às grandes marcas relojoeiras, assume um posicionamento de nicho com uma produção limitada – e, mesmo que os seus relógios sejam fabricados na Suíça, exibe orgulhosamente a personalidade belga.

Há semelhanças entre a Bélgica e a Suíça; são países pequenos com duas línguas dominantes bem distintas, que granjearam fama pela qualidade do seu chocolate e dos seus jogadores de ténis. Mas, no que diz respeito à relojoaria, a confederação helvética não tem equivalente em quantidade e qualidade – ao passo que o reino belga apresenta somente um par de marcas dignas de registo. Uma é a Ressence, baseada num revolucionário conceito de funcionamento e de disposição do tempo; a outra é a Raidillon, inspirada no universo automobilístico e na lenda de Spa-Francorchamps. O nome é imediatamente reconhecível no mundo do desporto motorizado: trata-se da mais famosa curva de um circuito que tem fama de ser um dos mais bonitos do planeta.

É também um circuito que entrou para a história do automobilismo português porque foi lá que pela primeira vez uma equipa lusa registou um triunfo internacional de relevo – o triunfo de Carlos Santos e António Santos Mendonça na classe 2L dos 1000km de Spa em 1973, terminando no sexto posto da classificação global. Quando subiram ao pódio não havia a bandeira nacional para erguer: ninguém imaginou que portugueses pudessem ganhar qualquer classe!

Curiosamente, a fotografia do Lola T292 nº 66 de Carlos Santos e António Santos Mendonça faz parte do catálogo da Raidillon e das imagens históricas de Spa-Francorchamps que a marca utiliza para evocar a sua inspiração automobilística. Que está bem patente na sua coleção – sobretudo através da utilização de cores e de detalhes evocativos tanto na arquitetura da caixa dos relógios como nas próprias correias de pele, mas também com o recurso a Racing Stripes nalguns modelos e pormenores especiais de corrida noutros. Sempre com o 55 em destaque – só são feitos 55 exemplares de cada modelo, número que tem a ver com a quantidade máxima de viaturas antigamente permitida nas grandes provas oficiais, sendo que a numeração começa no 0 e não inclui o 13 do azar…

Tanto a concepção das caixas e dos mecanismos como a montagem são feitas em solo helvético, daí a parte inicial do mote ‘Swiss Powered, Race Minded’. Porque o resto é mesmo belga, a começar pelo seu fundador Bernard Julémont, um grande adepto de automobilismo que tinha uma empresa de importação e distribuição de marcas suíças de prestígio na Bélgica. Fundou a Raidillon em 2001 para fazer relógios que fossem mais de encontro ao seu gosto, declaradamente desportivos e que evocassem os tempos lendários das corridas – desde a década de 50 até aos anos 70. Nos últimos anos, Fabien de Schaetzen assumiu o papel de CEO e alargou a coleção de modo a albergar também uma linha de design resolutamente moderno.

A Raidillon é mais do que uma marca de nicho; é literalmente uma boutique brand de produção limitada comercializada primeiramente numa loja própria na Galerie de la Reine, no centro histórico de Bruxelas, e depois em todo o mundo através de uma distribuição criteriosa ou compras avulso por parte de aficionados do desporto motorizado que se identificam com o espírito racing dos relógios e o imaginário criado à sua volta. Os preços andam maioritariamente entre os 1.500 e os 3.500 euros – muito razoáveis tendo em conta a qualidade de design, de construção e da mecânica assente em calibres automáticos ETA de reconhecida fiabilidade: o 2824 e o Valjoux 7750, o que imediatamente permite perceber que a coleção anda sobretudo à volta de relógios de três ponteiros e de cronógrafos.

O catálogo da Raidillon sofreu uma recente depuração. Das oito diferentes linhas anteriormente existentes (Casual Friday, Design, Timeless, Racing, Night Panel, Cruise, Havana e Phil Hill), passou a apresentar somente as quatro primeiras. É uma colecção consistente e despretensiosa, que joga muito com cores vivas e prateados. A arquitectura das caixas é exclusivamente redonda e os mostradores também apresentam uma conotação automobilística em pequenos detalhes – desde pormenores que replicam fatos de corrida ou os assentos até submostradores de reserva de corda que parecem o indicador de gasolina, passando pela referência às curvas/zonas DRS de Spa-Francorchamps e as próprias coordenadas GPS do circuito.

O modelo Circuit de Spa-Francorchamps, estreado em 2014, é mesmo um deleite para os aficionados e um verdadeiro smartwatch – não por qualquer conectividade mas por ser um relógio inteligente: faz referência às 12 curvas do nas 12 horas do mostrador (ST, Stavelot; LS, la Source; ER, Eau Rouge; LC, Les Combes, e pelo circuito adiante) e respectivas velocidades, sendo também referenciadas as zonas DRS (onde os pilotos podem abrir o aileron traseiro para ultrapassagem) do célebre circuito das Ardenas! Está declinado em duas versões: o relógio de três ponteiros com data e o cronógrafo, com mostrador parcialmente em carbono.

Depois há os modelos listados com as Racing Stripes tão em voga nas corridas de resistência e nas combinações dos pilotos na década de 70, havendo igualmente versões inspiradas nas listas dos Muscle Cars americanos.

Os códigos estéticos e o estilo casual desportivo da marca belga estende-se igualmente a toda uma gama complementar de acessórios em pele: sacos com o 55 emblemático da Raidillon em evidência, luvas de condução, botas vintage – sem esquecer a alargada selecção de correias de pele cuidadosamente selecionada e manufacturada na Bélgica pela manufactura familiar Lic, com pespontos em evidência e versões ‘sport’ perfuradas.

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Sobre o autor
Miguel Seabra