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A ‘Besta de Turim’ volta a ser ouvida mais de cem anos depois

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A ‘Besta de Turim’ volta a ser ouvida mais de cem anos depois

A tecnologia automóvel tem sido pródiga nos seus avanços nos anos mais recentes. No entanto, se se olhar para os primórdios da indústria automóvel, verifica-se que já existiam exemplos de engenharia notáveis para a sua época e que ainda hoje se destacam por serem impressionantes.

É o caso deste Fiat S76. Provavelmente, nunca ouviu falar dele. Mas também não é de estranhar, já que este automóvel data de 1910. Mas não é só por esse motivo que é merecedor de destaque. É que o S76 dispõe de um imponente motor de quatro cilindros com 28.5 litros de cilindrada, o que lhe confere o direito a ostentar a alcunha de ‘Besta de Turim’. A potência ascende a impressionantes 300 cavalos! Recorde-se que falamos de 1910.

O Fiat S76 tinha como objectivo bater o recorde de velocidade no solo, que na época era detido pelo Blitzen-Benz (outro ‘monstro’ com 21.5 litros de cilindrada), havendo registo de apenas dois veículos produzidos. Abordemos um pouco da sua história.

Condução exigente

Depois de ver os seus registos de tentativas de recorde anulados (com o francês Artur Duray ao volante), o destino dos dois S76 ficou traçado pelo esquecimento. Após a Primeira Guerra Mundial, o primeiro S76 apareceu na Austrália, embora já sem o motor original, mas com um Stutz no seu lugar. Já o segundo S76 ficou sempre na posse da Fiat, mas a marca italiana decidiu desmantelá-lo logo a seguir ao primeiro grande conflito bélico, numa prática que então era comum entre os construtores.

Acerca da condução do Fiat, Duray, que foi incumbido da tarefa de alcançar o recorde de velocidade pelo princípe russo Boris Soukhanoff (que adquiriu o chassis número 1), referiu à Rivista Illustrata Mensile No. 9 de 1914 o quão difícil era controlar o S76: “As minhas impressões? Engrenar a primeira, segunda ou terceira velocidades é relativamente simples, mas quando se trata de engrenar a quarta quando seguimos a 190 km/h é uma história completamente diferente. Tenho de segurar o volante com força, puxar a alavanca das mudanças para a frente e prestar atenção para não subir a berma, porque no momento em que o ar entra na câmara de combustão, o coice causa a impressão que o banco está a magoar as costas”.

Tarefa hercúlea

Foi apenas em 2003 que o britânico Duncan Pittaway chamou a si a tarefa de reconstruir o S76, ao comprar o chassis número 1, sem o motor de 28.5 litros. Contudo, a unidade do chassis número 2 ainda resistia e foi adquirido por Pittaway algum tempo depois, com o trabalho subsequente para o colocar de novo em funcionamento a obrigar a um intenso restauro.

No final de Novembro o gigantesco motor Fiat com quase 30 litros de cilindrada voltou à vida (cerca de 100 anos depois) e o som é algo de outro mundo (assim como o ‘coice’ do arranque, ainda por manivela). Os planos de Pittaway passam por recolocar o S76 de novo na estrada, no próximo Festival de Goodwood. Entretanto, aproveitando a impressionante tarefa de reconstruir a ‘Besta’, Stefan Marjoram filmou um interessante documentário sobre todo o processo que deverá ser lançado em Fevereiro de 2015. Fique com o trailer desse mesmo documentário.

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Sobre o autor
Pedro Junceiro